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Pé no chão e a cabeça no universo das artes


Hoje nosso entrevistado é Clerson Vicente, aluno do primeiro semestre de Artes Visuais no CEUNSP. Residente na cidade de Porto Feliz, ele nos conta que a arte fez parte de sua vida desde a infância, quando já fazia alguns desenhos: “Quando eu era pequeno, eu vivia desenhando no ar, minha mãe me mandava parar de fazer aquilo”. Contando com o apoio dos pais, continuou perseverante nessa sua escolha de trilhar pelos caminhos da arte, e hoje já se sente realizado pela escolha de fazer uma faculdade na área.

Clerson fala-nos um pouco das dificuldades inerentes à profissão de artista no Brasil, mas sente-se confiante para o futuro: já planeja muitas conquistas. A sua maior inspiração está na espiritualidade, na consciência e na sua própria vontade de vencer sempre.

Como a Arte entrou em sua vida?

A Arte sempre esteve presente na minha vida, sempre gostei de desenhar, pintar, inventar histórias. Durante a infância, eu tinha muita influência de desenhos animados e animes, tanto que eu comecei a aprender a desenhar com mangá, tentando copiar os desenhos que eu assistia, criando histórias paralelas. Quando eu era pequeno, eu vivia desenhando no ar, minha mãe me mandava parar de fazer aquilo. Na infância, meus pais incentivaram bastante esse lado artístico, achavam que eu tinha algum talento, que desenhava bem. Então, comecei a fazer um curso de desenho pela prefeitura da cidade, aí comecei a ter contato com as HQ's norte americanas, que eram influência dos dois professores que eu tive nesse curso, mas não durou muito tempo. Depois fiz um outro curso com um professor chamado Serrano, que também durou pouco tempo. Quando eu tinha por volta dos 8 anos, uma bibliotecária da escola em que eu estudava, viu meus desenhos e achou muito bons, aí ela entrou em contato com um jornal local para me entrevistarem e mostrar alguns desenhos. "A arte de Clerson", era a chamada do jornal. A partir daí, fui conhecer mais coisas por conta própria, fui perdendo o gosto por mangá, quadrinhos, visitando outros ambientes, crescendo...

Como você analisa o profissional em Artes Visuais no Brasil?

Eu vejo como um perseverante, às vezes até como louco. Todos nós sabemos que não existe uma valorização tão grande do profissional em Artes no Brasil. Se destacar também não é fácil, você vê que tem muita gente boa por aí. O profissional precisa viver sempre se superando, o que é bom por outro lado, porque você não fica estagnado. Absorvemos muito da cultura de outros países, sem nos dar conta de que existe esse complexo de inferioridade que o brasileiro tem. Porém, temos muito mais a oferecer do que absorver calados. A Arte é edificadora, temos uma mistura cultural muito complexa.

Quais são seus planos para o futuro?

Para o futuro próximo, eu tenho alguns eventos que participarei pintando, trocando ideias com as pessoas. Tenho também uma oficina de Aquarela que eu vou ministrar em Sorocaba. Um pouco mais distante, tenho alguns projetos, como o estúdio colaborativo, ainda estou trabalhando nesse projeto, e se tudo der certo, ele avança para estúdio móvel, vamos sair por aí, dando palestras, oficinas, cursos.... Também, pretendo lecionar aulas de Arte, que é algo que eu gostaria de experimentar, passando essa luz do ensino para alguém, e continuar produzindo muito, expandindo os saberes.

Como você analisa o mercado da Arte na sociedade brasileira?

Muito local, artistas brasileiros que vendem para galerias brasileiras, que vendem para colecionadores brasileiros. Aqueles que se destacam lá fora, muitas vezes, nem são conhecidos aqui no Brasil. Eu vejo o caso dos Gêmeos, também do Luis Seven Martins, tem obra dele em mais de 27 países, mas aqui, pintam o trabalho dele de cinza para ficar igual o viaduto.

Onde você encontra inspiração para trabalhar?

É meio difícil dizer. Acho que minha maior inspiração vem da espiritualidade, da consciência. Acho que a arte permite uma expansão da consciência, que podemos evoluir assim, a criação ainda está acontecendo, entende? A arte cura, acho até engraçado o termo curador de arte. Eu passei por momentos bens difíceis na vida, e a arte me salvou diversas vezes, e eu transformei esses momentos na minha arte também: transmutação, alquimia, a arte vai revelando o que era oculto, sabe? Então, acho que a minha maior inspiração é levar essa luz através da arte. Quando eu senti essa expansão dentro de mim, eu percebi que era muito bom, mas eu percebi que muita gente não tem isso, ou não sabe como chegar até isso. Esse encontro com você mesmo, percebi que eu não posso guardar para mim, tenho que servir como catalisador disso tudo.

Você acredita que existe preconceito em relação ao seu trabalho?

Muito, mas é por aí que eu tiro um parâmetro. Muita gente, olha para o que eu estou fazendo e diz que é inútil, ou não entende bem. Mas daí eu pergunto: você acha que a vida é trabalhar para ter [dinheiro], pagar contas, se conformar com tudo que tem de mal por ai? Ou que você aprende a cada dia da vida? O que você está deixando plantado? Você pode deixar o que quiser, mas tudo tem suas consequências, faço o melhor que eu posso, e sei que ainda é pouco.

Qual é a mensagem que você deixa aos apaixonados em Artes Visuais?

Que continuem se expressando, sejam verdadeiros, sintam-se, cada pensamento carrega um sentimento e uma energia. Quando alguém olhar seu trabalho esse é o conjunto que você transmite; é como um triângulo, isso é unidade, e você se sente feliz por saber que em algum momento alguém sente aquilo que você sentiu. Pé no chão e a cabeça no universo.


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