Diversão em cores! Entrevista com Lia Fênix
Crew: é um conjunto de grafiteiros que se reúne para pintar ao mesmo tempo. Tire de um conjunto de grafiteiros a minoria (e não menos talentosa): AS MULHERES. O resultado? Desenhos lindos, com cores vivas e um acabamento completamente refinado, com um toque feminino incrível. Esses são os desenhos da grafiteira Lia Ramos, que traz um mix de doçura e cor à OLHO NA ARTE!
Nome completo, idade, natural de qual cidade?
Me chamo Lia Fernanda Ramos de Oliveira, tenho 32 anos e sou natural de Itu.
Quando você começou a grafitar?
Comecei a grafitar por volta de 2006, com um pessoal de Salto. Todos meninos, que assim como eu estavam aprendendo.
Você conhece outras meninas que assim como você, são apaixonadas pelos grafites?
Hoje conheço muitas meninas que pintam, de diversos estados do Brasil. Algumas bastante reconhecidas por sua qualidade técnica e artística, como a Panmela Castro, Tikka Mezzaros e Lídia Viber e Amanda PanKill, que amam e são maravilhosas no que fazem. Aqui no interior de SP, não somos tantas quanto gostaríamos, mas existimos (risos) e sempre que possível, pintamos juntas. Atualmente faço parte de duas crews femininas (grupo de grafiteiras), a Noturnas de SP e a Sistas Crew, de Salvador BA, ambas compostas apenas por meninas incríveis e de muita personalidade.
Qual o estilo de grafite que você defende?
Não defendo um estilo de grafite, afinal, cada artista tem uma mensagem a passar e encontra a melhor maneira de fazê-lo a seu modo. Eu, particularmente, me identifico com o desenho de personagens por ser mais próximo da ilustração, que é minha maior influência, mas no graffite vale tudo, sendo no muro, estamos dentro (risos).
Seus grafites são muitos femininos e parecem vindos do mundo dos sonhos. Há alguma referência para você seguir esse estilo?
Tenho mesmo um referencial bastante forte nesse mundo de sonhos e faz de conta. Acho legal poder fugir da realidade e quando se trata desse assunto, a arte ainda é o melhor meio (risos). Trago nos meus desenhos, influências do Surrealismo Pop, Arte Nouveau, circo, tattoo, ilustração e mais um monte de coisas que acabaram fazendo parte da minha formação artística, que acabaram conferindo à minhas obras, uma espécie de aura lúdica e onírica.
As modelos dos seus desenhos parecem viver na Idade Média. Por qual motivo você quis colocar um estilo mais clássico em suas roupas? Hum... Eu não diria Idade Média (risos). Tenho um referencial muito grande no circo. Amo os figurinos e a delicadeza dos gestos, as roupas que desenho acabam refletindo esse universo luminoso circense, mesclado a potencia sedutora e inocente das pin ups, tão presentes nas tatuagens.
Seus desenhos são super coloridos e as cores são bem fortes. Você acredita que isso chama mais a atenção do público? As cores, são minha maior diversão (risos). Não penso na atenção que vão chamar, mas sim em remeter um universo paralelo, particular, onde tudo é possível, colorido e brilhante, mas isso depende muito do dia. Às vezes, gosto de brincar com mais sobriedade, menos cores e detalhes pontuais bem coloridos.
Você possui alguma formação em arte? Tenho graduação e mestrado em Artes Visuais, pela Unicamp.
Há algum tipo de preconceito entre os outros grafiteiros por você ser mulher?
Atualmente, não sinto tanto o preconceito por parte dos grafiteiros por ser mulher, porém já passei por situações bem desagradáveis por conta de gênero. O ambiente das ruas é essencialmente masculino, e poucas meninas se aventuram por esse meio, o que acaba fazendo que mais olhares se voltem para nós e nos observem, gerando desconforto, com certeza, pois ninguém gosta de ser medido ou avaliado permanentemente, fato que acontece quase sempre com as meninas que pintam pela essência machista da nossa própria sociedade.
Porque retratar somente mulheres?
Ahhh... Por que só mulheres? (risos)
Porque somos lindas! O corpo feminino é todo curvilíneo e orgânico, podemos brincar com as cores do cabelo, sensualizar com o olhar, seduzir com os lábios, somos fortes, guerreiras e ao mesmo tempo, divas! Existe um tema melhor que a mulher? (risos)